Os limites de governar uma máquina neoliberal, por Daniel Max
por Daniel Max*
A eleição do presidente Lula, em 2002, marca uma interrupção na avalanche de retrocessos advindos das políticas neoliberais e o estabelecimento de um novo ciclo de crescimento socioeconômico no Brasil. Porém, não resolverá os problemas mais profundos da desigualdade em nosso País. Por quê? Porque a maquina estatal (republicana) brasileira foi construída sob a lógica liberal e azeitada nas décadas de 1980 e, principalmente, na de 1990, com o santo óleo neoliberal.
Para Lula se eleger foi preciso firmar um compromisso com o mercado financeiro, através da carta aos brasileiros e com a manutenção de seus representantes no comando do Banco Central, dirigido por Meirelles. Depois de Meirelles a nomeação seguiu sempre essa lógica, mudando apenas a agência financeira ou o banco: o próximo será Bradesco.
O presidente recém eleito, teve que promover uma reforma previdenciária prejudicial aos trabalhadores para satisfazer a sanha do capital, inclusive com votos “críticos” e votos contra dentro da própria bancada governista. E até a presente data não revogou o fator previdenciário.
O primeiro governo sofreu ataques e acusações em função da manutenção do esquema de caixa dois de campanha, muito comum entre os liberais e as velhas raposas políticas que desembarcaram como apoio no novo governo. As conquistas sociais imediatas falaram mais alto e Lula foi reeleito. E no segundo governo apostou suas fichas no mercado interno e em novas parcerias internacionais, o que foi decisivo para superar a crise econômica internacional, diminuindo sensivelmente os índices de desemprego e aumentando a renda dos que ganhavam menos, além de programas de inclusão socioeconômica. Foram os oito anos de avanços sociais e econômicos, advindos dos investimentos públicos que garantiram a eleição de Dilma.
O governo Dilma/Temer buscou manter e ampliar algumas conquistas, entretanto, também enfrentou entraves para continuar avançando no campo social. Esses entraves soaram como estagnação e foram maldosamente confundidos como retrocessos pela grande imprensa. As metas de inflação ficaram em patamares aceitáveis para o crescimento que estava em curso, porém, isso não era suficiente para o capital. Assim como a meta de superávit primário, um mecanismo adotado durante o período de ingerência do FMI sobre o governo brasileiro, em virtude da elevada dívida contraída junto a esse órgão, ainda na época da ditadura e alimentada por acordos submissos feitos pelos governos pós-redemocratização. Infelizmente o superávit continuou sendo encarado como um dispositivo válido para a questão da dívida pública, em função das taxas de juros, que mesmo sendo bem inferiores as passadas, continuam engordando a especulação e sangrando os cofres públicos.
Enquanto isso, os movimentos sociais assistiam passivos, todas as decisões de governo. A reforma agrária foi tímida, o fator previdenciário e a redução da jornada de trabalho para gerar mais empregos não foram empunhados como bandeiras. Os avanços na educação foram basicamente os propostos pelo governo ou os que foram acatados depois de reuniões. Mobilização de rua, quando foi feita, foi por “coxinhas” e os movimentos foram impelidos a participar, mais em função dos ataques desferidos contra o governo do que pela defesa das bandeiras levantadas.
Nossa reflexão é: enquanto a lógica financista neoliberal ditar os rumos macroeconômicos e as organizações sociais não exigirem, nas ruas, mudanças mais profundas, os avanços promovidos pela máquina estatal criada sob a lógica do neoliberalismo, serão cada vez mais limitados pelos ataques desproporcionais desferidos contra as conquistas postas, colocando-as em risco.
por Daniel Max,
Sociólogo e Colunista do Blog