Famílias festejam 12 anos de paz no Sertão
BELÉM DO SÃO FRANCISCO Os representantes de clãs participam de uma missa na próxima semana para marcar o encerramento da guerra que deixou mais de 100 mortos
Jornal do Commercio
Foram 12 anos de uma guerra particular. Uma guerra declarada que chegou a envolver dez famílias e resultou em mais de cem mortes. Mas a realidade agora é diferente em Belém de São Francisco, Sertão do Estado, que na próxima semana vai parar para celebrar 12 anos do acordo que devolveu tranquilidade à cidade.
Em abril de 2000, com a ajuda da igreja, os clãs envolvidos no conflito assinaram um pacto para acabar com a matança entre eles, que teve início com a morte de Clodoaldo Gonçalves durante discussão em um bar em 1988. Próximo domingo, dia 29, os Gonçalves, Araquã, Benvindo, Claudio, Nogueira e Russo se reúnem para comemorar a trégua em uma missa campal.
Esse acordo de paz só trouxe ganhos para todos nós. A igreja teve um papel muito importante e agora, há 12 anos, não há mais mortes por causa dessa briga. Temos mesmo que celebrar isso, ressalta Rogério Araquã, 50 anos, um dos líderes da família. A cerimônia também marcará a despedida de dom Adriano Ciocca, bispo de Floresta, que ajudou nas negociações e está sendo transferido para a diocese de São Felix do Araguaia, em Mato Grosso, no Centro-Oeste do País.
Para José Neto Maximiano da Cruz, 50, do clã Benvindo, entidades ligadas à defesa dos direitos humanos e autoridades do Estado serão convidadas para a missa, que acontece a partir das 9h, em frente à Igreja Menino Deus, em Belém de São Francisco.
A melhor coisa que aconteceu foi esse acordo. Dezenas de pessoas deixaram de morrer nesses últimos anos, afirma José Neto. Segundo ele, esse acordo pode servir de exemplo para outras famílias que vivem em guerra, como os Novaes e Ferraz, em Floresta, também no Sertão.
Joselito Nogueira, 47, um dos interlocutores da família Nogueira, afirma que o acordo de paz transformou Belém de São Francisco em uma cidade mais tranquila. Antes todo mundo vivia em uma tensão muito grande. Agora, a cidade está tranquila, garante.
Durante os 12 anos de guerra 1988 a 2000 famílias se uniram e a sede de vingança que parecia não ter fim fez muitos integrantes dos clãs se envolverem na criminalidade. Além dos homicídios, começaram a roubar carros e participar de assaltos a bancos para sustentar a briga e a vida na clandestinidade.
JUSTIÇA
Com o acordo de paz, os clãs cobraram da Justiça pernambucana que agilizasse os processos de integrantes das famílias que estavam pendentes. Um deles é o de Osvaldo João dos Santos, conhecido como Vavá Araquã.
A demora no julgamento dele é uma das reclamações das famílias. Nossa intenção é que todos sejam julgados o mais rápido possível para acabar logo com isso, afirmou Rogério Araquã.
Vavá se envolveu em assaltos e foi preso, mas escapou do Presídio de Salgueiro após fuga em massa no dia 8 de maio de 2001. Após nove anos foragido, foi recapturado em junho de 2010 e aguarda julgamento.
Em julho de 2010, representantes das famílias, padres e juízes da região estiveram no Tribunal de Justiça de Pernambuco (TJPE) para solicitar agilidade nos processos. Na ocasião, o assessor especial da presidência, o juiz Humberto Inojosa, foi designado para fazer o levantamento dos casos.
Segundo o magistrado, Vavá Araquã tem oito mandados de prisão de diversas Comarcas, entre elas um de Belém de São Francisco. O juiz Humberto Inojosa informou que o julgamento do acusado em um dos processos está marcado para o próximo mês.