Ceclin
jan 08, 2019 0 Comentário


Ensinamentos políticos em 2018, por Daniel Max

Seguidores do presidente eleito amanhecem diante do Palácio do Planalto, onde Bolsonaro recebeu a faixa presidencial na terça, dia 1º. Foto: Sergio Moraes/Reuters

Seguidores do presidente eleito amanhecem diante do Palácio do Planalto, onde Bolsonaro recebeu a faixa presidencial na terça, dia 1º. Foto: Sergio Moraes/Reuters

por Daniel Max 

Em que pese os acontecimentos políticos não terem origem exatamente nele, o ano de 2018 ficará historicamente marcado na política brasileira. Ele é um desdobramento de anos anteriores e traz consigo algumas lições.

O fato mais relevante foi a eleição de Jair Bolsonaro (PSL) para presidente da República, algo impensável se não fosse o pluralismo partidário do Brasil – algo que é condenado por inúmeros cientistas políticos. O antes nanico PSL tornou-se a segunda legenda do País, enquanto que o DEM, herdeiro político da toda poderosa ARENA dos tempos de bipartidarismo, desidratou significativamente. Outra legenda que desceu ladeira abaixo na representação parlamentar foi o PSDB, saindo de 54 deputados eleitos em 2014 para 29 em 2018, enquanto o (P)MDB também encolheu caindo de 66 para 34 deputados.

Por sua vez, as legendas tradicionais terem decaído e a renovação tendo sido a maior desde 1998, a configuração do Congresso Nacional ampliou o conservadorismo com o crescimento da bancada evangélica (ou da Bíblia), que saiu de 78 para 91 deputados e se juntará a bancada ruralista (ou do Boi) e a bancada dos defensores de mais armamentos (ou da Bala). Essas bancadas juntas terão peso decisivo nos rumos das novas pautas e votações na Câmara dos Deputados.

O Partido dos Trabalhadores (PT), teve uma presidente que sofreu impeachment em 2016, não conseguindo voltar ao Planalto e simbolicamente representa uma grande derrota aos partidos de esquerda. A chapa Haddad/Manuela obteve 10 milhões de votos a menos que os vencedores, diferença bem maior que a registrada entre Dilma e Aécio (3 milhões de votos), porém, metade das diferenças impostas por Lula em cima de Serra e de Alckmin (mais de 20 milhões de votos em cada eleição).

A tática adotada pelo PT, como principal partido das esquerdas, foi a de insistir na candidatura de Lula até o limite dos prazos e só depois apostar em Fernando Haddad numa chapa com o PCdoB, aliado histórico.

Por outro lado, Ciro Gomes e o PDT partiram numa cruzada em busca do chamado centro, que no fim se associou formalmente ao também derrotado Alckmin. “Centro” este que já havia aderido nos bastidores a candidatura mais à direita.

Inumeráveis fatores contribuíram para a vitória do bloco comandado pelo candidato do PSL, mas vamos nos ater apenas em algumas sintomáticas:

●       Uma tática ajustada sobre o que pautar nas redes sociais para atrair seguidores e adeptos, enquanto enredava os adversários com temas fantasmas, tanto no sentido de se desfazerem no ar sem deixar vestígios, quanto no sentido de assombrar os ativistas da pauta identitária. Ou seja, pautou a esquerda identitária que arrastou outros segmentos por solidariedade. Frases e menções que pareciam mera provocação traziam consigo mais intenções que as publicizadas. Isso ficou evidente na pulha do kit gay (entre outras) que a esquerda corria para responder;

●       Divisão do Campo da Esquerda com fortes divergências explicitadas sobre os rumos a serem seguidos, além das idas e vindas de propostas na carta programa de Haddad/Manuela, confundindo ainda mais os que nela pretendiam votar;

●       Um deslocamento desnecessário do discurso da esquerda, que não conseguiu sair de um patético #elenao, enquanto o povo queria saber do desemprego, da violência e dos problemas na Saúde e na Educação, em que pese o outro lado não ter apresentado nada de concreto, também;

●        A subestimação de até onde poderia chegar a extrema direita, levou seus opositores a apenas ficarem os taxando de fascistas, como se isso fosse suficientemente esclarecedor para o povo mais simples;

●       O acúmulo de desgastes causados tanto pelo natural exercício do poder pela esquerda e o amordaçamento dos movimentos sociais mais consequentes ao longo dos três mandatos do PT, bem como o rumo neoliberal adotado no pós-eleição de 2014, são questões que se somam.

Esse caldo de cultura e a grave crise socioeconômica que atingiu principalmente os mais pobres que ansiavam uma saída que não foi apresentada claramente pelo campo progressista ampliou e despertou um sentimento mais conservador na maioria da população brasileira, fenômeno que tem caráter mundial, vide os resultados mais recentes na Europa e nas Américas.

O ano 2018 é, portanto, uma consequência de outros e ao mesmo tempo pode desenhar os próximos.

Enxergar 2019 olhando para a história e apostando no exercício da democracia (ou no que possa restar dela) parece ser o caminho mais correto a ser seguido por todos que defendem, verdadeiramente, o Brasil.

Daniel Max 2019

 

por Daniel Max,

é Sociólogo e Colunista do Blog