Depois do feijão, consumidor amarga alto preço do leite
Muito já se falou do aumento do feijão, mas você reparou que o leite também está mais caro? O longa-vida, por exemplo, já beira os R$ 4. Tudo isso porque, depois do feijão, esse foi o produto que mais sofreu com a inflação deste ano. Só na primeira quinzena de julho, aumentou 15,54% de acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). A disparada, segundo os produtores de leite, é resultado do aumento dos custos da produção, que tem reduzido o volume, o lucro e as vendas do setor e já afeta o preço da manteiga e do iogurte.
De acordo com o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo 15 (IPCA-15) do IBGE, a inflação do grupo de leite e derivados variou 8,70% neste mês, puxada pelo aumento do longa-vida (15,54%), leite condensado (6,66%), manteiga (6,26%), leite em pó (3,26%) e creme de leite (4,21%). Já o queijo variou apenas 0,6%; já que, com a crise, saiu da mesa de muitos brasileiros. Em relação ao ano passado, o aumento foi ainda maior em Pernambuco. O longa-vida da Betânia, por exemplo, subiu 24%. Já os derivados, 14%, segundo a própria indústria.
A Associação Nacional de Criadores (SNC) e o Sindicato da Indústria de Laticínios e Produtos Derivados de Pernambuco (Sindileite-PE) explicam que a alta é resultado do aumento de 50% dos custos da produção. “Estamos entrando no quinto ano de seca, então não há pastagem suficiente para o rebanho e é preciso comprar ração, o que encarece a produção. Fora isso, há problemas com os proteicos energéticos de soja e milho, que subiram quase 100% devido à grande procura por esses grãos no mercado internacional. Com isso, os custos relativos à alimentação do rebanho dispararam. Então, ou aumentávamos o leite ou fechávamos a fazenda”, explicou Albérico Bezerra, presidente do Sindileite, contando que o litro do leite in natura vendido para a indústria passou de R$ 1 para R$ 1,40. A ANC diz, no entanto, que o aumento ainda não cobre os custos do produtor. “O saco de milho foi de R$ 37 para R$ 75 e o de soja de R$ 52 para R$ 99. Já o leite subiu apenas R$ 0,40; então, as contas continuam sem fechar”, reclamou o presidente da ANS, Emanuel Rocha.
Com o impasse, muitos produtores do Agreste do Estado precisaram vender cabeças do gado leiteiro para evitar prejuízos. A Fazenda Redenção, de Garanhuns, por exemplo, já teve 160 vacas, mas hoje tira leite de apenas 100. “O resto soltei ou vendi, porque os custos não compensavam. Ainda diminui a ração, reduzindo de 21 para 17 litros/dia a produção por animal. No total, foi uma queda de 40%. Então, as contas continuam no vermelho”, lamenta o proprietário José Maria Dias, que amarga um prejuízo de 20%. Segundo o Sindileite e a ANC, estes problemas levaram a produção leiteira pernambucana para 1,7 milhão de litros/dia, montante bem menor que o registrado antes da seca: R$ 2,5 milhões.
Com a matéria-prima mais cara, a indústria também empurrou os custos para o consumidor. “O leite representa 60% da produção; então, qualquer reajuste precisa ser repassado.Como o leite aumentou 40% desde janeiro, os produtos subiram até 30%”, admitiu Júnior Galvão, diretor administrativo do Bom Leite. Ele ainda contou que as vendas caíram 11% e a produção 10%. Por isso, a empresa precisou demitir 15% do seu pessoal. Lembrando que o problema afeta todo o Brasil, o diretor-presidente da Betânia, Bruno Girão, diz que a alta deve persistir por pelo menos três meses. Já Albérico é mais pessimista. “A coisa só vai melhorar no próximo inverno e se voltar a chover”, prevê.
Folha de Pernambuco