Ceclin
abr 29, 2009 0 Comentário


Câmara de Glória do Goitá vive tempo quente

Publicado em 29.04.2009

Vereadores aprovam por sete votos contra um a destituição do presidente da Casa, Manoel João Firmino, acusado de homofobia. Ele, no entanto, se nega a entregar o posto e diz que vai à Justiça

Jorge Cavalcanti
GLÓRIA DO GOITÁ – O vereador Manoel João Firmino (PSB) assumiu a presidência da Câmara de Glória do Goitá (Zona da Mata) há menos de quatro meses. Mas foi destituído na última segunda-feira à noite, em mais um capítulo de uma novela cujo enredo envolve disputa por cargos, denúncias de irregularidades e acusação de homofobia.
Por sete votos contra um, os vereadores aprovaram o requerimento do 2º secretário Ceciliano Neto (PSB). Isolado, Firmino se nega a entregar o seu posto e garante que vai recorrer à Justiça.
No final de janeiro, o filho de Firmino foi fotografado com o carro oficial da Câmara, um Fiat Palio, ao lado de um engradado de cerveja, o que motivou a crítica da oposição de uso do veículo para fins pessoais. O irmão do vereador Valdeir Félix (PTB), José Félix, foi o autor das fotos. O presidente e o petebista são adversários e disputam o eleitorado do distrito de Apoti.
Irritado, Firmino partiu para o ataque, chamando o fotógrafo de “homossexual”. “É uma pessoa que está desequilibrada. É homossexual e tem interesse no meu filho. E eu e meu filho não gostamos de união do mesmo sexo. Nós gostamos é de mulher”, disparou o presidente, durante uma sessão.
Em entrevista à Rádio Goitacaz FM, Firmino foi ainda mais incisivo. “Quem tirou as fotos foi um gay, que fica querendo namorar meu filho”, disse. No pedido de destituição, o autor da requisição alega que Firmino está “exorbitando” e submetendo a Casa à “galhofa”.
As declarações do presidente e as fotografias foram publicadas pelo Blog de Jamildo.
A Associação Brasileira de Gays, Lésbicas, Bissexuais, Travestis e Transexuais (ABGLT) chegou a enviar um pedido de retratação, sem sucesso. “Me retratar de quê? Não fui homofóbico. Fico no cargo até a última consequência”, garantiu o presidente, ontem.
Firmino admitiu que usa o Palio nos finais de semana, mas negou que o veículo foi usado para transportar bebidas. “Meu filho estava tirando o carro da garagem, pois ia ter uma festa na minha casa”, justificou.
BRIGA POR CARGOS
Nos bastidores, o movimento para destituir Firmino tem como pano de fundo uma disputa por cargos na estrutura da Câmara. Cada um dos nove vereadores possui dois assessores no gabinete. Mas havia uma praxe de o presidente dividir entre os colegas a indicação para os demais 14 cargos da estrutura da Casa.
Ao assumir, Firmino quebrou a tradição e não rateou a cota. Ele garante que deixou quatro vagas em aberto para aplicar o dinheiro na reforma do prédio da Câmara e na compra de computadores.
O líder da oposição, Geraldo Vicente (DEM), já avisou que a bancada espera a convocação de uma nova eleição para a presidência. Caso Firmino insista em permanecer na função, ele e os demais vão esvaziar o plenário. “É até uma vergonha ele ficar em um lugar que os colegas não querem”, criticou, em entrevista a Goitacaz FM.
No final do ano passado, a Câmara de Glória do Goitá foi palco de outra polêmica. Um grupo de vereadores foi acusado de chantagear o então presidente da Casa José Milton (PSB). Para aprovar o orçamento deste ano, exigiam o pagamento de um benefício para ex-assessores, contra a orientação da assessoria jurídica da Câmara.
José Milton gravou os diálogos por telefone com um aparelho MP3 e veiculou as conversas numa rádio. Pressionados pela população, os vereadores recuaram e votaram o orçamento.
(Jornal do Commercio).