Breve contribuição à discussão sobre ciência, tecnologia e sociedade em Pernambuco
PAUSA PARA REFLEXÃO

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A realidade econômica e tecnológica do Estado demanda uma discussão aprofundada sobre os rumos da ciência e tecnologia em Pernambuco. Grandes investimentos como o estaleiro, a refinaria, o pólo de hemoderivados entre outros tem sido feitos na perspectiva de gerar empregos e ativar economicamente Pernambuco na realidade brasileira, percebe-se o entusiasmo da população em geral e dos meios de comunicação com estes acontecimentos recentes.
Diante disso, os quadros técnicos e científicos que ocuparão estas vagas devem ser preocupação precípua das nossas universidades e dos nossos programas de pós-graduação, na perspectiva de valorizar os profissionais regionais fazendo com que a universidade seja protagonista nesse processo de avanço científico, tecnológico e econômico de Pernambuco, permitindo assim a troca de experiências necessárias à produção de um conhecimento articulado com as demandas locais e que gere um resultado social positivo.
Além disso, as discussões locais sobre a instalação da refinaria em Pernambuco também devem acompanhar o debate nacional sobre os biocombustíveis rumo a uma política energética limpa, renovável e sustentável, e este debate deve vir não só elucidando as vantagens dos biocombustíveis mas colocando claramente suas limitações. Em meio ao contexto de um comércio internacional que fixa o barril de petróleo acima de 140 dólares (jul/08) e do aumento do preço dos alimentos [2] as discussões dos cientistas devem ser críticas como forma de garantir que os impactos sociais e ambientais do fortalecimento da matriz energética do Petróleo em nosso Estado não se reflitam na degradação da nossas riquezas ambientais. As análises dos custos da implantação de qualquer investimento deve levar em consideração os passivos ambientais gerados, e os relatórios financeiros produzidos devem evidenciar estes passivos, bem como as ações preventivas de geração destes passivos, muitas vezes irrecuperáveis; as formas de reparação de danos planejadas e executadas pelas empresas, sejam elas públicas ou privadas, devem ser claramente informadas.
Este breve texto não tem um objetivo programático e sim de chamar a atenção a um campo de intervenção importantíssimo e que poderia contribuir substancialmente para o avanço da ciência e tecnologia do estado. Uma política de pós-graduação alinhada estrategicamente aos interesses e vocações regionais pode potencializar sobremaneira os nossos resultados científicos, tecnológicos, econômicos, sociais e ambientais.
É bem verdade que a nossos compromissos acadêmicos e profissionais ou acadêmicos-profissionais deixam muito pouco tempo para produzir e refletir sobre qualquer coisa que extrapole o nosso objeto de pesquisa e as exigências dos nossos programas de pós-graduação, contudo cabe a nós ocupar este espaço e assim contribuir com uma discussão profunda e reflexiva sobre o futuro do nosso Estado e da nossa região. Negligenciar isso é correr o risco de deixar a sociedade pernambucana à reboque da política para ciência e tecnologia do NE TV. Pena que não sou o Glauber Rocha…
“A televisão vive da publicidade regulada pelo dogmatismo de que “o meio é a mensagem”. Qual a contribuição científica ou artística da televisão, se considerarmos o baixo nível qualitativo de suas informações? Neste caso, “o meio não é mensagem” e os artistas e cientistas são reduzidos a veículos publicitários. Os cientistas são, por natureza, conscientes da burocracia; enquanto os artistas movem o mundo com as paixões que logo choram reprimidas pela censura ou abandonadas pela volubilidade do público teleguiado. O cineasta e o autor-produtor de teatro, mais do que os outros artistas, se convertem, às vezes, em empresários e financiam suas aventuras criativas, correndo riscos de perdas e lucros.“ (GLAUBER ROCHA, REVISTA ANIMA-2, ABRIL DE 1977).