Audiência discute medidas de combate à dengue. Prefeitura de Vitória se omite
Por Lissandro Nascimento
Representantes de órgãos públicos envolvidos no combate à Dengue se reuniram no plenário da Câmara de Vereadores na noite dessa segunda-feira (29/02), em Vitória de Santo Antão, na Zona da Mata, para discutir novas ações de combate às morbidades negligenciáveis, principalmente Dengue, Zika Vírus, Chikungunya, doenças que têm apresentado números de notificações alarmantes no País. A reunião foi para discutir uma forma de impedir o avanço do número de casos de dengue na cidade, pelo qual contou com o representante da Secretaria Estadual de Saúde, Wellington Tavares, do 4º Comando Militar do Nordeste (CMN), Ten. Coronel Manoel Carlos, bem como o Sargento Sidiclei do Tiro de Guerra 07004 Vitória; a gestora do Hospital João Murilo – Roberta Camara, representantes dos agentes de Saúde, do Conselho Tutelar e da Maternidade Apami Vitória, Corpo de Bombeiros – Tenente André; Diretor da UFPE Vitória – José Eduardo, parlamentares e populares.
Segundo o autor desta iniciativa, vereador Geraldo Filho (SD), a ideia da audiência pública é que a população e os vereadores possam contribuir de forma participativa. “Se faz necessário colher da população alguma sugestão que nos ajude nessa questão do combate, por isso, foi importante a manifestação de toda a comunidade”, disse o parlamentar, acompanhado apenas dos vereadores Toninho (Pros), Prof. Edmo Neves (PMN) e Dr. Saulo Albuquerque (SD).
Durante audiência pública, opiniões contrárias derivaram motivos de desconforto no plenário entre moradores e representantes do Legislativo e do Hospital João Murilo, agravado pela ausência da Secretaria de Saúde da Prefeitura de Vitória, que não enviou representante.
Esta omissão e o não comparecimento eram de se esperar da atual gestão Elias Lira (PSD), que se especializou em não dar satisfações à sociedade vitoriense, já que, no último mês de dezembro, o governo municipal decretou epidemia da doença, contudo não se percebe qualquer ação, o que aumentou o número de pessoas infectadas desde o começo do ano, fazendo com que Vitória detenha a mais alta taxa de incidência de casos da Mata Sul pernambucana.
Na audiência ficou bastante evidente que é necessária a união de forças para conseguir combater a proliferação do mosquito transmissor quando o tema tornou-se uma preocupação mundial. “Objetivamente esta infestação será combatida com a união de forças com as autoridades e a comunidade, médicos, empresários, entidades e sociedade organizada para que possamos juntos encontrar soluções coletivas para esse problema tão grave e que atinge a todos. É evidente que estamos diante de um caso de calamidade pública, sendo necessária a criação de força tarefa”, afirmou o Professor Edmo Neves. A Organização Mundial da Saúde (OMS) considera que o zika vírus é uma emergência de saúde pública mundial e a sua disseminação está associada a prováveis casos de microcefalia (problema neurológico irreversível). Já a dengue e febre chikungunya fazem com que parte dos infectados possa desenvolver a forma crônica da doença.
O parlamentar disse em sua fala que há ausência de sensibilidade por parte da Prefeitura de Vitória, postura pela qual está comprometendo futuras gerações. Ele pontuou uma série de ações desenvolvidas pelo seu mandato e que foram fiscalizadas e cobradas pela Câmara perante o Executivo, inclusive parcerias com as Forças Armadas e o Centro Acadêmico da UFPE Vitória. “A Prefeitura de Vitória nos ridicularizou e não tem atendido as nossas sugestões e apelos, pois a gestão municipal considera que as críticas são alvos de perfil oposicionista”, desabafou Edmo. Para ele o que se vê desta gestão é o uso da máquina pública para fazer campanha extemporânea já pensando na eleição que se aproxima, em proveito das campanhas institucionais.
“Após denúncias, não é surpresa para nós a omissão da Prefeitura de Vitória. O prefeito Elias Lira precisa ser humilde e procurar os deputados, o governador e os órgãos para pedir especial atenção para esta epidemia que assola nosso Município”, asseverou Edmo Neves.
JOÃO MURILO – “Os números de atendimentos do Hospital João Murilo divulgados na imprensa foram superdimensionados. Em média, temos cerca de 14 mil atendimentos por mês. O que houve na verdade, foi que fomos pegos de surpresa diante da gravidade desta infestação na região, pois ninguém esperava o alto pico em janeiro por conta desta virose. Orientamos a população quando estiver com os sintomas, procurar primeiro os Postos de Saúde em sua cidade”, sugeriu Roberta Camara, gestora do hospital.
ESGOTO – “É preciso aqui registrar que apenas 45% é a cobertura do saneamento básico no Nordeste. O que indica que a problemática é macro, que por sua vez requer ações integradas. Há necessidade de mais contratações de agentes, tendo em vista que em Pernambuco há 23 mil, onde pelo menos 06 mil são agentes de endemias, número insuficiente que reflete em Vitória de Santo Antão, quando aqui possui 263 agentes comunitários. Na medida em que precisamos de mais gente, na verdade precisamos acima de tudo, é de saneamento básico. Sem esgotamento sanitário não há qualidade de vida”, defendeu Michelson Gomes, representante dos Agentes de Saúde.
SUJEIRA – “Quero questionar o fato de Vitória de Santo Antão ter tantos animais soltos nas ruas, tanto lixo acumulado, postes na escuridão e muito esgoto a céu aberto. Três anos e meio moro nesta cidade e nunca vi um lugar para feder tanto”, vaticinou o mineiro Wilton Rodrigues, que abriu a fala de populares nesta audiência.
MICROCEFALIA – “A Maternidade Apami também registra alto índice de atendimentos por conta desta infestação. Levamos ao conhecimento de todos que já existe um núcleo para o cuidado das crianças com microcefalia em Vitória. Até o momento há 04 casos confirmados e estão sob nossos cuidados”, avisou Ana Lúcia, representante da Apami.
DESCASO – “Não adianta tão somente cobrar das pessoas que evitem o foco da dengue, quando na porta de suas casas reina a desordem urbana com esgoto. A atual gestão da Secretaria de Saúde da Prefeitura de Vitória ainda não se reuniu com nós agentes, nem para saber de nossa contribuição e nem para combinar uma estratégia de combate ao mosquito. Outra coisa grave é que há um número alto e invisível de subnotificações desta virose, tendo em vista que as pessoas adoecem e desistem de procurar a rede de Saúde. De modo que não adianta fazer lindas praças públicas e esquecer-se de fazer o básico”, salientou Cláudio da Saúde, agente comunitário.
CONSCIÊNCIA – “É triste constatar a falta de compromisso da base aliada do prefeito nesta Câmara. A cidade está doente e os nossos representantes se escondem, até quando? É preciso também cobrar responsabilidade daqueles cidadãos que não praticam a educação ambiental e jogam o lixo fora do horário e em local inapropriado”, criticou o Tenente da PM Raimundo.
CÓLERA – “Esta infestação em Vitória é semelhante ao que ocorreu na década de 90 ainda na gestão do finado Dr. Ivo Queiroz, quando a cidade foi acometida pela cólera. Os hospitais e postos de Saúde precisam entrar em consenso. Podemos também vencer este grave problema”, lembrou a servidora pública municipal Marlene.
VERBAS – “Infelizmente esta Prefeitura virou um balcão de negócios. Eles querem ter mais gente doente para que se venha mais verbas. Não falta recurso, falta vontade política em debelar este problema”, asseverou Geraldo Enfermeiro, ex-vereador.
ILUSÃO – “A Prefeitura de Vitória se utiliza das redes sociais para dizer que está atuando no combate à dengue, quando as ações são ineficazes e tardias. Tenho minhas limitações como vice, mas tenho consciência que todos precisam se unir para amenizar este problema. Sugiro uma Central de Saúde local para atender especificamente os pacientes infectados”, opinou Henrique Filho, vice-prefeito (PR).
COBRANÇA – “A Prefeitura de Vitória tentou esconder este grave problema de todos nós. O professor Edmo nos alertou com suas ações sobre esta grave epidemia e o vereador Geraldo vem procurando soluções. Tal atitude deveria partir primeiro da Secretaria Municipal de Saúde, mas não, a Prefeitura prefere dizer que o aumento dos casos é devido a população estimular os focos e jogar indevidamente o lixo. Sugiro a esta Casa que aprove um ‘Voto de Desagravo’ pela ausência e omissão da atual gestão”, salientou o Dep. Henrique Queiroz (PR), pelo qual também propôs que fosse aproveitado a estrutura do Hospital Geral da Vitória (desativado) para dar suporte aos infectados.
VOLUNTÁRIOS – “A Campanha ‘Livre da Dengue’ desenvolvida pela universidade tem procurado mecanismos no combate ao mosquito e tem servido a sociedade pernambucana. A discussão aqui tem que suplantar os palanques políticos. Estamos dispostos em colaborar com campanha educativa nas escolas e o suporte para a capacitação de voluntários”, contribuiu José Eduardo, diretor da UFPE Vitória.
DEFESA – “Aprendemos positivamente diante da experiência com a operação ‘Água Limpa’ quando o Exército intensificou seu combate ao mosquito em 31 cidades pernambucanas. Depois em janeiro último, o Governo Federal nos incumbiu de todo planejamento da campanha contra a dengue e hoje estamos na quarta fase de execução. O Comando Militar está a disposição de qualquer município, mas para isso precisamos ser requisitados, tendo em vista que já dispomos da autorização de Brasília”, explicou o Ten. Coronel Manoel Carlos.
RESPONSABILIDADE – “Diante das epidemias anteriores, podemos afirmar que esta não é nada igual pelo seu grau impactante. Estamos a um ano trabalhando com esta infestação, basicamente a Chikungunya. De modo que cada município precisa criar sua rede de apoio, pois uma coisa é certa: os doentes retornam! O Governo do Estado assegura apoio logístico e financeiro, mas a equipe operacional é do município. Esta é a quarta visita que a assessoria técnica da Saúde faz à cidade. Tudo que aqui foi exposto vou levar ao conhecimento dos meus superiores”, falou Wellington Tavares, da Secretaria Estadual de Saúde.

Wellington Tavares, da Secretaria Estadual de Saúde, diz que o município precisa também cumprir sua função.
Por fim, o presidente da audiência, Geraldo Filho, adiantou que irá enviar um relatório completo de tudo que foi debatido e sugerido pelos órgãos presentes e pelos populares, quando vai direcionar a todos os órgãos competentes. De imediato, vai estimular um mutirão independente e voluntário na comunidade do Alto do Reservatório, organizado pelos Bombeiros Civis, Tiro de Guerra e o CAV-UFPE, a fim de iniciar outras iniciativas conjuntas nas demais localidades.